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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Paraguay, 29 de fevereiro de 2012

Visual do IALA - Guarani
Sempre gostei do verso do poetinha: a vida é a arte do encontro, embora hajam tantos desencontros pela vida... Bom, muito bom. Quando ouço que vivemos na sociedade da informação, lembro-me deste verso e digo a mim mesmo: embora haja tanta desinformação nessa sociedade...
Aqui estou, no município de Curuguaty, estado de Canindeyú, Paraguai. O estado faz fronteira com o Brasil, mais exatamente com Paraná e Mato Grosso do Sul. Quente e chuvoso, ao menos nesta época. Estou aqui desde segunda, fui convidado para dar um curso de uma semana no Instituto de Agroecologia Latino Americano - IALA – Guarani. O IALA Guarani é uma iniciativa da Via Campesina do Paraguai. Para quem não sabe, a Via Campesina é o mais representativo movimento campesino do mundo.
A cidade não é tão pequena, uns 80 mil habitantes. Nem tão pequena, nem tão bonita... mas alguns resquícios de Mata Atlântica que a rodeiam e a topografia de montes macios, que nos permitem ver um largo horizonte entremeado de curvas é bastante agradável aos olhos.
Aula prática
Visitar as áreas rurais dos países é como tirar um tipo de ultracenografia. Podemos ver algo de suas entranhas. Querem um exemplo? Estou tendo certa dificuldade no curso, pois os participantes na sua maioria são jovens filhos de agricultores, e se sentem mais confortáveis falando Guarani. Entendem meu espanhol, há um certo diálogo, mas eu sinto que entrecortado, limitado pela língua. Um deles me explicou que eles podem entender tudo, mas como pensam em Guarani, lhes dá trabalho traduzir para emitir uma opinião, e isto gera certos silêncios na comunicação.
No interior normalmente não existem restaurantes internacionais... e aí comemos o local, assim como ele é, sem um toque gourmet. No caso aqui, frango assado, carne de gado e mandioca cozida. Mandioca sempre, para todo lado, em todas as refeições.
Jovens no curso, momento da viola
O IALA – Guarani fica a uns 10 km da cidade, e como as instalações lá ainda são bastante precárias, optei por dormir no hotel aqui na cidade, e vou e volto todos os dias. Eu gosto, chego ao hotel por volta das seis, tenho tempo de net, escrever um pouco, comer e ler algo. Poderia passar algum tempo assim. A galera fica lá, dezenas de jovens, dormindo em seus beliches, divididos em três quartos, cada um deles com 20, 30 camas. Estudando e trabalhando, ainda terminando as construções, se dividindo nas tarefas de organização e limpeza, mandando mensagens via celular, buscando uma lenta e rara conexão com a net, tocando violão e jogando conversa fora nas horas de intervalo. 
Bonito ver a energia e alegria com que se dedicam às suas atividades. Legal ver a vontade com que buscam construir um mundo novo, o mundo dos seus sonhos, o mundo dos sonhos de cada um, o sonho de mundo que lhes venderam. Temo pelo resultado. Estas conquistas não se alcançam sem uma boa dose de preparação. Jovens rurais normalmente tem pouca oportunidade para uma formação de qualidade e a capacidade individual de superar estes limites muitas vezes é vencida por uma má orientação ou pelos apelos do dolce far niente. E parece que não é uma prioridade reverter este quadro. Nem por parte dos jovens, nem por parte da sociedade. Sigo temendo pelo resultado.
Enfim... vivemos na sociedade da informação, embora haja tanta desinformação na sociedade!