Pesquisar este blog

sexta-feira, 30 de março de 2012

Nicarágua, 30 de março de 2012

Sexta é dia de feira. Estelí, Nicarágua
           Como todos os dias desta semana, levantei hoje às seis da manhã. Aqui em Estelí todos os dias, neste horário, toca uma espécie de sirene que vem do corpo de bombeiros, localizado a apenas duas quadras do meu hotel. Ou seja, dentro do meu quarto. Toca alto..., e por quê? Por nada, só porque as seis é hora de levantar. Tá certo, vou instituir esta norma na minha casa.
            Já que estava desperto e de café tomado às sete da manhã, fui visitar uma feira, na rua ao lado da praça central da cidade. Realizada todas as sextas, com produtos frescos, processados e artesanatos da região. Os participantes são indígenas e agricultores familiares, uma boa parte deles orgânicos. Uma musica alta tocando, rua fechada, o ambiente estava bem festivo. Como sempre gosto de feira, senti que era um bom prenuncio para meu ultimo dia nestas paragens.
E de fato o dia foi bom. O curso terminou com um almoço, todos juntos em um restaurante. Para cumprir o combinado comigo, pedi camarões de novo. Bem gostosos. Apesar de eu ter achado que o curso foi apenas regular, no final a avaliação dos participantes foi positiva, o que é sempre bom.
Fábrica de Charutos, Estelí
Com a agradável sensação do dever cumprido a tiracolo, com uma sexta-feira à tarde livre, fui atrás de algo para fazer. Acabei indo visitar uma fábrica de charutos aqui do município chamada Plasencia. Tinha curiosidade de conhecer um pouco mais de como se produz um charuto e ainda tive a sorte de ir a uma que produz tabaco orgânico, o que não deixa de ser uma curiosidade a mais. É um trabalho intenso em mão de obra, totalmente artesanal, e, segundo a pessoa que me atendeu, uma folha de fumo passa pela mão de alguém cerca de 100 vezes, até estar pronta para ser consumida na forma de um bom puro.  Aprendi ainda que, se contabilizamos todo o tempo do plantio ao consumo, são no mínimo três anos para termos um charuto artesanal pronto. O visual das pessoas trabalhando em grandes salões sobre mesas de madeira me remeteu ao Sul dos EUA no fim do século XIX. Não que eu tenha estado lá, era ainda muito jovem, mas fiquei com esta nítida sensação.
Voltei caminhando para o centro da cidade, tirando fotos de algumas casas, suas portas e janelas de madeira, algumas antigas, meio rústicas, quase silvestres.
Café Don Luis, Estelí
Agora, finzinho da tarde, vim para cá, na mesma cafeteria de ontem, Don Luís, agora decidido a um mui merecido crepe de nuttela. Acabo de comê-lo, acompanhado de uma modesta bola de sorvete de creme. Arrematei com um expresso. Não é tão difícil ser feliz, basta fazer as escolhas certas. 
     Estou escrevendo daqui da cafeteria, aproveitando o entardecer na rua, curtindo o fim da minha semana. Quando voltar ao hotel pretendo não sair mais, afinal amanhã tenho que ir pra estrada às três e meia da madrugada, pegar o voo em Manágua às sete e viajar todo o dia, para chegar em casa três da manhã de domingo.  Tá tudo bem, tá tudo certo, a semana foi boa.

Nicarágua, 29 de março de 2012

Hotel Los Arcos, Estelí
Como já comentei, estou aqui para um curso com uma cooperativa de segundo grau, que reúne cooperativas de cafeicultores orgânicos e que se chama PRODECOOP. Criada em 1993, teve como principal motivação para seu surgimento buscar alternativas para comercializar café, saindo das mãos dos intermediários que pagavam preços muito baixos pela  produção. Em 1990, quando fracassou a revolução, segundo o termo que eles usam por aqui, a compra do café deixou de ser realizada pelo Estado e passou para as mãos do mercado, ou seja de intermediários. Lideranças organizaram PRODECOOP para responder a esta necessidade de vender o café de maneira mais vantajosa para os produtores. Hoje, ela conta com 38 cooperativas de base que agregam um total de 2.300 famílias de pequenos agricultores.
Para entender a Nicarágua temos que saber algo sobre a revolução Sandinista, que triunfou em 1979 e tem como símbolo a queda do ditador Anastásio Somoza, que vinha sendo buscada desde a década de setenta, através da luta armada. A FSLN – Frente Sandinista de Libertação Nacional, criada ainda em 1961, chegou ao poder em julho de 1979, com Daniel Ortega, líder máximo da FSLN, e foi derrotada na eleição de 1990. Recentemente, em 2006, Daniel Ortega retornou ao poder, ganhando a eleição e se reelegendo em 2011. É o atual presidente, e o país se divide entre Sandinistas e Antissandinistas. A todo o momento ouvimos por aqui referencia à revolução, os motivos do seu triunfo e sua derrocada. Vale a pena buscar na net mais informações sobre esta história.
Falando do dia de hoje, quando acabou o curso, no fim da tarde, fui tomar um ótimo expresso em uma bonita cafeteria no centro da cidade, chamada Don Luís. Tinha crepe de nuttela, mas eu resisti. Combinei com ele que nos vemos amanhã.
Restaurante do Hotel
Depois voltei ao hotel e fiquei trabalhando no bar-restaurante, bastante agradável. O hotel se chama Los Arcos, e recomendo. Fica em uma casa colonial restaurada, bonita, com ares andaluzes e um bom restaurante. Em Estelí existem várias casas coloniais, ao estilo do sul da Espanha, relativamente conservadas, com suas bonitas portas, janelas e pátios internos. Elas contribuem com a boa atmosfera da cidade.
Adivinhem o que jantei? Camarões. Ao alho, de novo. Estou viciando, tenho medo de ter síndrome de abstinência quando regressar ao Brasil. Jantei acompanhado de dois amigos em um restaurante Cubano, chamado Rincon Pinareño. Fica bem no centro, a duas quadras ao sul da Igreja principal da cidade. 
Amanhã, ultimo dia. Que bom, é hora mesmo de voltar pra casa. 

quarta-feira, 28 de março de 2012

Nicarágua, 28 de março de 2012

Eu e meu amigo Luis Alvarez
Não escrevi ontem porque o dia passou sem maiores emoções, ainda que bastante cansativo com curso em sala de aula o dia todo. Na verdade o mais emocionante foi comer camarões no almoço e no jantar. Hoje já foi bem mais interessante fomos ao campo, em três lugares diferentes.
Na primeira parte da manhã foi no mesmo Centro de Capacitação que visitei domingo, no município de Totogalpa, em uma região de trópico seco. Neste Centro tem uma concentração grande do que chamamos de tecnologias adaptadas e achei conveniente incluir uma visita lá durante nosso dia de campo. Armazenamento da água da chuva, fogão solar, minhocultura ou biogás são exemplos do que vimos. O Centro é coordenado por um grande amigo, Luiz Alvares, a quem eu não encontrava há mais de seis anos, e foi realmente um prazer vê-lo. Em 1999 estive nesta mesma região, no município de Somoto, dando um curso convidado por ele.
Don Vicente Colindres em seu café Agroflorestal
Depois seguimos direto para visitar duas fincas de café, uma convencional e outra orgânica, no município de Dipilto, mais ao norte, praticamente na fronteira com Honduras. Visitar lavouras de café é um prazer, ainda mais quando é manejado em um sistema agro-florestal, também chamado de café baixo sombra, o mais comum na América Central. Segundo meus conhecimentos, é muito próximo do máximo que se pode pensar em termos de aliar a produção de alimentos com a preservação ambiental.
Café Orgânico em sistema agroflorestal, da
 Sra. Alexa Marin
Mas, mais do que um prazer, foi muito interessante visitar estes dois cafezais. A diferença entre um e outro, entre o convencional e o orgânico, se limita à fertilização, já que nenhum dos dois usam agrotóxicos. E o convencional, que usa fertilizante químico, o faz em doses reduzidas, apenas para garantir a produtividade que o produtor julga mais adequada. Na verdade considero inapropriado chamar de convencional uma lavoura conduzida com tanta diversidade, cobertura vegetal, presença de árvores e sem pesticidas. É o problema das chamadas normas de produção orgânica, que nos obrigam a pasteurizar definições e procedimentos, e as vezes nos conduzem à algumas injustiças. Mas esta prosa é longa, não cabe aqui e agora. Voltando aos cafezais, como o orgânico tem uma produtividade inferior ao convencional, o meu desafio hoje foi propor alternativas para que ele ao menos se aproxime da produtividade do convencional. Começamos esta conversa lá na lavoura, amanhã continuo em sala.
Regressamos no fim do dia, em um lindo entardecer. Nos 100 km da volta a paisagem, montanhas entrecortadas por vales, mudava de cores a cada instante. Mais uma vez pensei que tenho que agradecer sempre à vida pelas oportunidades que me oferece. Hoje andei visitando cafezais, em sistemas agroflorestais, de agricultores familiares na América Central... Quer mais? Eu não, deixa assim que tá bom, se melhorar pode estragar...
De noite, jantei camarões, assim como ontem. Sigo firme no desiderato de comer camarão todos os dias!
Enfim, lo pasé genial hoje. Amanha, já é meu penúltimo dia por aqui. O tempo passa, o tempo voa.

terça-feira, 27 de março de 2012

Nicarágua, 26 de março de 2012

Visual do curso de Agroecologia para PRODECOOP
Hoje o dia foi quase todo em sala, com o primeiro dia do curso. É um curso apenas para a equipe técnica de PRODECOOP, um total de 12 pessoas, dez homens e duas mulheres. É assim, na nossa profissão ainda costumam predominar os homens. Mas..., a Agroecologia definitivamente tem uma alma feminina, e não tenho duvidas que a predominância masculina é um dos entraves que impede uma maior incorporação de valores sócio-ambientais na agronomia.
Trabalhei hoje o porquê de se trabalhar com a Agroecologia, falando de suas vantagens para a saúde das pessoas e do planeta, seus benefícios sociais e econômicos e ainda sua racionalidade agronômica. Depois naveguei por sua origem e conceito. Amanhã caminho mais em direção ao como fazer, em sua dimensão mais técnica.
À tardinha tive tempo de passear um pouco pela cidade. Plana, situada em um vale, não tão pequena, descobri que tem uns 120 mil habitantes, com alguns restaurantes e cafés interessantes. Passei por um cubano que pretendo conhecer. Digo um restaurante cubano, só pra deixar claro. Vi alguns grupos de europeus pela rua, em sua maioria jovens, e parece que o que os atrai são dois parques nacionais situados próximos à cidade. Estelí também tem fábricas de charutos e pretendo ter tempo para visitar uma delas até sexta-feira. E claro, comprar um bom charuto. Eu sei, não fumo, mas não poderei evitar de comprar um bom charuto...
 Aqui na Nicarágua ainda vemos e ouvimos várias referencias à revolução sandinista do fim dos setenta e sua derrocada posterior na década de noventa. Ainda vou perguntar mais para entender melhor e escrever algo aqui, mas por hora já sei que aqui Estelí foi palco de várias batalhas contra o então ditador Anastásio Somoza.
Delícia, delícia, assim você me mata...
De noite não resisti e repeti o prato de ontem, desta vez acrescido de batatas fritas, no restaurante do próprio hotel, que se chama Los Arcos. Bom, bem bom, sigo com meu objetivo de comer camarões todos os dias. Meu pai sempre me disse que eu não devia perder de vistas meus objetivos na vida, e estou decidido a alcançá-lo. Agora, um chocolatinho que comprei no aeroporto e cama. Amanhã tem mais trabalho, e o segundo dia de um curso de cinco dias é um momento crucial para ganhar os participantes. Tenho que estar descansado.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Nicarágua, 25 de março de 2012

Bonita casa colonial, em Ocotal
Estou na Nicarágua, em Estelí, que fica a 150 km ao norte de Manágua, capital do país. Cheguei ainda ontem à noite, depois de 23 longas horas de viagem, entre carro, aviões e aeroportos. Fico aqui toda a semana para dar um curso de Agroecologia para uma importante cooperativa de cooperativas locais de cafeicultores - PRODECOOP. Esta região aqui é nobre para o café, a altitude em vários locais fica entre os desejados 1200 e 1300 m sobre o nível do mar. Hoje, visitando PRODECOOP, já tomei um bom café, ainda que preparado à maneira americana, mais fraca, o que não é minha preferencia.
Café secando ao sol, em PRODECOOP
Hoje passei o dia visitando a região. Fomos ao local onde PRODECOOP beneficia o café, visitamos algumas cidades próximas, como Ocotal e Condega, e ainda revi um casal amigo, em Somoto, cidades que ficam ainda mais ao norte, próximo da fronteira com Honduras. Com eles fui visitar um centro de capacitação organizado por INPHRU, a ONG que eles coordenam. Muito interessante, é baseado no resgate do saber e da cultura Chorotega, uma etnia indígena que ocupou o pacífico sul da América Central.
Andar pelas estradas da América Central normalmente é passear na cordilheira vulcânica que caracteriza a região, costeando os morros e divisando vales e montanhas. Volta e meia subimos e de cima se descortina um amplo vale, onde normalmente ficam as cidades, maiores ou menores. Claro, quando saímos em direção aos oceanos a paisagem muda.
De tardinha ainda tive tempo para comer umas tortilhas e um queijo fresco local, acompanhados de uma Toña, cerveja daqui. Boa cerveja e produzida sem conservantes ou estabilizantes. Uma pena que no Brasil a imensa maioria das cervejas não segue a famosa lei de pureza alemã, que não permite aditivos na cerveja. As duas principais cervejas daqui, Toña e Victoria, que são da mesma cervejaria, seguem...
E agora acabei de jantar um camarão ao alho acompanhado de arroz, delicioso. Camarão de verdade, grandes, frescos. Apesar de não estarmos no litoral, o mar é perto, e o camarão pode vir até andando que chega fresquinho... Foi um bom dia para começar minha estadia aqui, mais tranquilo, já que amanhã começa o trampo, com 9 horas de curso por dia, até na sexta-feira. Sábado já regresso. 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Paraguay, 02 de março de 2012

Visita a campo tem disto: furou o pneu...
Já voltando para casa. O que sempre é bom. Fiquei cinco dias aqui e escrevi apenas dois posts. Os dias foram meio repetitivos, e eu não queria de novo tratar aqui o teor dos meus cursos, o que já fiz em outras ocasiões. E acho que estou reaquecendo também, é a primeira viagem do ano.
Ontem fomos visitar duas pequenas propriedades rurais aqui da região. Não tão da perto, porque viajamos uns 200 km entre ir e voltar. Foi legal, sempre gosto destas oportunidades de conhecer experiências locais que se baseiam na Agroecologia. Enriquece minha percepção sobre porque e como ela vem sendo aplicada no continente. De mais a mais, com uma turma jovem e heterogênea como esta, a melhor técnica são aulas práticas e visitas de campo. Mais fácil para que cada um apreenda de acordo com sua base de informações.
Barbaquá, para processar a erva-mate
Uma das fincas que visitamos é um típico Sistema Agroflorestal, SAF no jargão dos agrônomos. Muito legal ver um sistema tão diversificado em árvores de diferentes utilidades como podem ser produzir frutas ou madeira, medicinais e aromáticas, para sombra ou ainda para melhorar a fertilidade do solo. Neste caso, o cultivo principal é a erva–mate, muito utilizada por aqui para fazer o tererê, um tipo de chimarrão frio tomado diariamente aos litros em todo o país. Tanto o chimarrão quanto o tererê vem da tradição guarani, e a erva mate, planta que origina a erva, é desta região do sul do Brasil e Paraguai. A outra propriedade é baseada em hortaliças, frutas, algumas vacas, pequenos animais, piscicultura. Tudo integrado, bem cuidado, manejo atento e elegante. Legal de ver também.
Finca ecológica, Sr. Eugenio Melo
São milhares de experiências assim em todo o continente. E ainda tenho que ouvir quando frequento seminários acadêmicos que precisamos de mais informação para ter certeza da factibilidade da aplicação dos princípios da agroecologia. Que preguiça eu tenho ao ouvir isto! Os interesses por trás da venda de agroquímicos são muito fortes. Contrapô-los é uma tarefa árdua. Exige ouvirmos verdades inquestionáveis absolutamente falsas!
Hoje foi dia de terminar o curso e me despedir dos alunos. Gostei de conhecê-los e de conhecer o Instituto. São guerreiros. Um pouco mais de ordem na escola poderia aproveitar melhor o entusiasmo reinante e contagiante entre seus jovens frequentadores. Quanto à cidade, não acho que escolheria Curuguaty para ser meu próximo destino nas férias, mas, como disse ontem, conhecer o interior dos países é ver um pouco de sua alma. E isto eu gosto. Gosto também do Paraguai e seu povo com sua essência Guarani, expressa na língua, no tererê, na comida.
Bom início para as viagens deste ano. Não ótimo, mas bom. Este ano promete, as expectativas são boas. Fui, acho que a próxima é a Nicarágua, no fim do mês.