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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Paraguay, 12 e 13 de dezembro de 2013.

Finca de Don Angel, sala de aula pronta...
Ontem acordei às cinco da manhã e viajamos uns 200 km, de Coronel Oviedo para o Departamiento de San Pedro, assentamento La Germarnina, município de Nueva Germánia, diretamente para a finca de Don Angel Gimenez. Aí passamos a manhã, entre um conversatório e visita aos cultivos.
Estavam umas 25 pessoas da comunidade, e a prosa girou em torno de como eles podem seguir resistindo, com o enfoque da agroecologia, diversificação de culturas e novas estratégias de mercado, ao avanço da soja. Andamos por esta região, centro-oeste brasileiro, leste do Paraguai, nordeste da argentina e sudeste da Bolívia e o que temos é a impressão que o mundo vai virar um mar de soja. Com esporádicas ilhas de cana de açúcar. Esquema que não resiste a uma análise sócio-ambiental ou econômica, mas que persiste à custa de pesados subsídios.
Almocinho fora...
Terminamos com mais um almoço ao ar livre, frango caipira com um bolo salgado de milho verde delicioso, e, claro, mandioca. Não existe refeição por aqui sem mandioca. Terminado o alomoço, viajamos mais uns 180 km para Horquerta, departamiento de Concepción. Cheguei, participei de uma breve reunião com lideranças locais para planejar as atividades de hoje e fui ao hotel, louco por um ar condicionado. Me deixaram no hotel às cinco da tarde e só saí do quarto por 20 minutos para comer algo. Umas empanadas, muito típicas por aqui.
Hoje a jornada começou cedo. Um evento organizado por organizações como Via Campesina e COCICP (Coordinadora de las organizaciones indígenas y campesinas del Paraguay). Era a segunda edição da Festa da Produção Campesina, e reunia famílias de várias regiões do país. 
Feira de produtos e sementes.
Umas 250 pessoas. Foram palestras, feira de sementes e produtos das próprias famílias, visitas à fincas, troca de experiências. E muita música, principalmente polca. Ouvi índia, uma das mais famosas canções paraguaias em Guarani. E Lago de Ipacaray! Dentre os cantores que passaram pelo telão, Miguel Quintana Bareiro e seu grupo Vy’arã e Ramonita Vera e seu grupo Tropical (www.youtube.com/watch?v=AwlE2fZQ6is). Uma estética própria, no visual e na melodia, que podemos ver em vários lugares pelo interior do nosso continente. Engraçado, curioso, nem sei definir. Na hora do almoço, um churrascão com 180 kg de carne, um grupo local, ao vivo, garantiu a animação.
Às quatro da tarde o evento ainda seguia mas nós retornamos para Assunção. Foram 350 km, cinco horas de viagem, uma linda paisagem e um por do sol de cinema. Bem agradável.
Agora estou no hotel, amanhã sigo para Campo Grande, ainda tenho a semana que vem cheia por lá. Se eu estivesse de carro, de Concepción teria ido para Pedro Juan Caballero, 150 km, de lá atravessado para Ponta Porã, MS, e viajado apenas 300 km para Campo Grande. Agora faço Assunção – São Paulo – Campo Grande. Tá valendo.

Grupo local... saca o contra-baixo!
Bom, é isto, aqui no blog, agora, só ano que vem. Possivelmente Biofach, Nuremberg, em fevereiro. Então, para terminar, me pergunta se está tudo bem. Vou responder com uma expressão daqui, que descobri agora e achei sensacional: “Espetacular y mejorando!”. Fui.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Paraguay, 09, 10 e 11 de dezembro de 2013.

Ritual Guarani de benção das sementes
Este ano este Blog andou devagar... foi um ano de muitas viagens dentro do país, mas poucas fora. E como o que me dispus foi escrever minha memória das viagens internacionais ficou assim. Mas fico com saudades de escrever, tenho que buscar outro motivo.
Cheguei aqui em Coronel Oviedo, 150 km de Assunção, anteontem às nove da noite. Não é a primeira vez que venho aqui nesta cidade e neste local. Exatamente um ano atrás estive aqui, e esta foi a única vez que viajei para o exterior e não relatei desde que comecei este Blog. Como se dizia nos anos 70, eu “estava mal de cabeça”, nem que quisesse conseguiria escrever. Que bom que a vida me trouxe aqui de volta, para me mostrar mais uma vez que tudo passa! Sim, tudo passa.
Conversando no campo
Estou aqui no Paraguai para diferentes atividades de trabalho, contratado por uma Central de Cooperativas apoiada por uma ONG Sueca, We Effect! Estão sendo palestras, visitas a propriedades rurais, mini-cursos. Sempre ligado à agroecologia, certificação participativa, mercados locais.
Ontem a atividade foi um mini-curso de 5 horas, pela manhã até o início da tarde. Os participantes eram em torno de 30, técnicos ligados a pequenas cooperativas e dirigentes campesinos, para usar uma expressão local. A conversa girou em torno de como construir a transição agroecológica. Conversamos sobre basear esta transição em um tripé. Construção concreta de referências de produção e comercialização, formulação teórica e/ou de propostas baseadas nestas experiências e incidir junto ao estado por políticas públicas baseadas nestas práticas e reflexões.
Visitando as lavouras, propriedade do Vidal Toledo
Terminou cedo, ainda tive tempo dar uma volta pela cidade. Estas cidades do interior do Paraguai não costumam ser muito bonitas. E Coronel Oviedo não foge à regra. Mas sempre é possível comer uma chipa, andar nas ruas ouvindo guarani, o que eu acho demais, e vislumbrar bonitas paisagens naturais ao redor das cidades ou pelas estradas.
De noite, um vinho chileno, com amigos paraguaios, um espanhol e uma sueca. Quase uma reunião da FAO.
Hoje pela manhã fiz o que mais gosto, visitamos uma propriedade, da família do Vidal Toledo, na comunidade Pozo 5 de Carayao. Visita tranquila, junto com alguns membros da comunidade, tivemos bons papos sobre a realidade deles, fomos vendo e conversando sobre os cultivos. Encerramos com um almoço local, ali mesmo na finca
Nome deste almoço: "mais chique impossível!"

De tarde uma reunião com a Prefeita e lideranças de uma pequena cidade da região. Sobre como um município pode apoiar iniciativas de cunho agroecológico.
E agora de noite, um bom programa. Uma feira de troca de sementes locais. Normal, sempre ocorrem, mas a de hoje com uma benção das sementes muito interessante de ver. Primeiro um Padre deu sua benção, uma mini-missa, em Guarani. Missa em Guarani. Dá para ficar pensando o que aconteceu por aqui nestes últimos anos. Digo nos últimos 500 anos. Depois do Padre, a benção Guarani, ou talvez seja mais preciso dizer um ritual Guarani. Três pajés ficaram dançando, parados e ritmados, tocando um tipo de chocalho e cantando uma espécie de mantra. E, um por vez, passavam dançando, cantando e sobrepondo as mãos nas bancas de sementes. Atrás deles três mulheres, uma bem mais velha, ficavam secundando os cantos, batendo um tronco de bambu no chão e fazendo o back vocal. Muito interessante, demoradinho, tudo ao seu tempo. Só a parte Guarani durou uns 90 minutos.
Amanhã e depois, se entendi bem, sigo visitando famílias agricultoras. Depois conto.
Exposição de sementes locais.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Lima, 08 e 09 de setembro de 2013.

Visual do Pacífico, desde o malecon de la reserva, Lima.
    Ontem e hoje passei entre reuniões e alguns passeios. Domingo de manhã, reunião sobre SPGs, com um Camaronês que foi contratado por IFOAM para fazer um estudo a nível mundial sobre os SPGs - Sistemas Participativos de Garantia. De tarde fui à assembleia da Região Andina do MAELA – Movimento Agroecológico da América Latina e do Caribe.
Galera dançando no parque
Tive tempo ainda de ir à Miraflores passear pelo Parque Kenedy e ver algo que reputo como muito curioso. No meio do Parque tem um pequeno anfiteatro, ou algo parecido, redondo, com o que seria o palco no centro, em plano mais baixo. E dezenas de pessoas dançando neste palco e centenas sentadas, olhando. E todo mundo se divertindo. Chega a ser engraçado. Totalmente popular, gratuito, música animada e pessoas dançando e sorrindo!
Depois de ver o povo dançando, fui à sanduicheria La Lucha. Uma das mais famosas daqui, ao lado do Parque, que está sempre com fila. Comi um sanduba de leitão à lenha, com molho de ají, e tomei chicha morada.
bom demais...
Hoje foi leve. De manhã fui comer churros com chocolate, no melhor estilo espanhol, molhando o churros no chocolate, na tradicional Churrería Manolo, na Av Larco 608. Depois fui tomar um expresso no Larcomar, e de lá fui ao Parque do amor feitas também em ladrilhos. E uma grande escultura com um casal de beijando. E claro, vários casais tirando fotos...
   Encontrei Ana e almoçamos um menu de U$ 2,80/pessoa. Queríamos comer barato para provar de novo este tipo de restaurante. De entrada pedimos ceviche e ensalada de palta e chicharrones de lechón e ají de gallina como plato de fondo. Um chá de camomila, morno e doce, era a bebida que acompanhava. Correto, e a relação custo benefício, então, sem comentários, excelente.
ensalada de palta y ceviche
Depois ainda tive tempo de ir rever alguns amigos agroecólogos, já que amanhã aqui começa o Congresso de Agroecologia da Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecologia, a SOCLA. Como a academia não é muito meu mundo, acabei não priorizando ficar. Regresso porque esta semana que começa me ameaça com muito trabalho, e já estou viajando há oito dias, suficiente. Fica a lástima de não conviver com o povo bom que está vindo para este Congresso.
Fui, acho que este ano ainda volto à Lima. E não me queixo.

domingo, 8 de setembro de 2013

Lima, 07 de setembro de 2013.

         
Fernando Alvarado, Antonieta Manrique e eu, 
Mercado Saludable de La Molina 
           Hoje fui visitar uma Feira, chamada Mercado Saudável de La Molina. Produtos Orgânicos em sua maioria, outros mais na linha natural, artesanatos, brinquedos de maneira. Muito bem organizada, fica em um parque, na Alameda del Corregidor cuadra 5, municipalidad de La Molina. Revi alguns amigos, comprei o Café Feminino, (além de muito bom gosto do nome) e pão Essênio, feito a partir de trigo germinado, acrescido de frutas secas. Delicioso.    
Mistura, lotado!
       Depois voltei ao Mistura. Hoje, sábado, estava absolutamente lotado. Algumas filas para comer com espera de uma hora. Talvez mais. De fato, reafirmo o que já disse aqui, o peruano é absolutamente empolgado com sua comida, e Mistura é o exemplo mais emblemático disto.
Vou contar duas coisas interessantes, entre várias que ouvi hoje.
A primeira sobre o chef, Gaston Acurio. Seu principal restaurante, dele e de sua esposa, o Astrid y Gaston, http://astridygaston.com, acaba de ganhar um premio como melhor da Américas Latina, fruto do voto de cerca de 250 chefs e críticos do Continente. Em várias listas mundiais figura entre os 50 melhores do mundo. Ou seja, top. E hoje, o que ouvi de uma Peruana: “Gastón tirou a vergonha que sentíamos pela comida andina. Se pedíamos papas a la huancaína o causa, éramos chamadas de serrana.” (quer dizer da Serra, dos Andes, similar ao caipira no Brasil). E isto falado com emoção, com sensação de gratidão a pessoa que fez isto por ela. É o que tento dizer do significado para os peruanos da sua comida, do reflexo que isto tem em sua auto imagem como cidadãos. Queria contar isto, achei interessante.
Mesas no Mistura. E a galera comendo...
Depois de viajar pela comida Andina, a onda dele nos últimos tempos é a Amazônia. Acho que a onda do Alex Atala no Brasil também anda por aí agora.
A outra coisa que ouvi e que reputo como interessante foi de um agricultor de Puno, região dos Andes, no sul do país. Ele me contou sobre o cultivo de batata. Tive ajuda de outro agricultor conhecido meu, já que este senhor de Puno mal falava o espanhol. Ele me contou que cultiva 150 variedades de batata, um sulco (linha) de cada. Que na época da floração da batata é bonito ver o campo todo florido com diferentes cores. 
batata andina: a que faz chorar a nora
E que existe batata para diferentes finalidades. Para dar de presente à comadre ou ao compadre. Que cozinha rápido, a primeira a ser comida na época da colheita, ainda no campo. Para cozinhar, fritar, fazer sopa, purê, etc. Com funções medicinais (e agora os nutracêuticos estão na moda!). E uma delas, esta da foto ao lado, que tem um nome Quechua, como todas, e que a tradução ao português seria algo como: a que faz chorar a nora. Quando um homem escolhe a mulher com quem gostaria de casar, ela deve descascar esta batata sem romper a casca e dando todas as voltas que ela requer. Já tinha ouvido isto e disse ao agricultor que pensava que era brincadeira, ao que ele me respondeu em tom sério que não, não era broma. Para ele este assunto é sério. Este momento, de descascar a batata, é como um ritual de aceitação da nova pessoa na família. Me chama a atenção que a batata esteja envolvida, Na cultura Andina, batata é coisa séria, permeia boa parte da vida das pessoas, não é apenas um alimento. 
E de noite fomos, eu e Ana, ao Barranco, o bairro boêmio da cidade. Recomendo. Fomos ouvir musica ao vivo, tomar uma cerveja e um pisco souer. Nada mal.

sábado, 7 de setembro de 2013

Lima, 06 de setembro de 2013.

Um dos mundos da Mistura 
Hoje participei de uma reunião sobre a regulamentação dos Sistemas Participativos de Garantia para a Agricultura Orgânica nos quatro países da CAN - Comunidad Andina de las Naciones. Peru, Bolívia, Equador e Colômbia. Às três da tarde terminou e fui à Mistura.
Visual da Mistura
Mistura é uma feira Gastronômica que acontece todos os anos em setembro, aqui em Lima. Não é muito antiga, está na sua sexta edição. Esta é a segunda vez que a visito, e me dá a impressão que eles ainda estão buscando seu formato ideal. Está um pouco mais sofisticada, menos popular, e acho que ela perde um pouco com isto. Mas é muito interessante. Gastronomia no Peru é o assunto da hora, e não é de hoje. A culinária local é possivelmente o maior motivo de orgulho do povo daqui, e me arrisco a dizer que o sucesso da cozinha peruana no mundo aumentou a auto-estima da população. Acho que é válido comparar com a relação que temos com o futebol, e o que representou para o povo Brasileiro ganhar o tricampeonato do México.
O Brasil também é um país de uma culinária riquíssima, mas não sinto que tenhamos orgulho disto. Se recebermos um amigo de fora, até queremos levá-lo em um bom restaurante, mas pode ser que seja de comida italiana, japonesa ou francesa. Aqui, esquece. Sempre de comida peruana. Claro que existem restaurantes internacionais, mas a imensa maioria é de restaurantes especializados em comida peruana, de diferentes regiões do país. E a pessoa mais conhecida deste país não é um jogador de futebol, é um chef, Gastón Acurio.
Feira de Produtores, parte importante da Feira.
Mistura é organizada por Apega, a Associação Peruana de Gastronomia, que tem exatamente no Gastón Acurio seu nome mais significativo. Há três anos tive a chance de estar em um Encontro de Agricultores Ecológicos aqui do Peru onde ele foi falar sobre a necessária aliança entre os cozinheiros e os agricultores. Ele, e Apega, tem incansavelmente batido na tecla que sem a agricultura familiar não haveria a comida peruana. E fala das batatas, dos milhos, da quinua e do amaranthus. E das lhamas e alpacas. E ainda salienta o aspecto ecológico, agrobiodiverso dos produtos campesinos. Elegeu Don Julio, um agricultor que mantém mais de 150 variedades locais de batatas em sua propriedade a quase 4000 metros de altitude e que só fala quechua, o papá de las papas. Tem se mostrado um aliado muito importante para os Agricultores Familiares, ecológicos ou não, do País. Claro que é uma aliança difícil, os interesses das organizações às vezes falam mais alto, e já soube aqui que Apega não permite que as organizações dos agricultores usem seus logos no Mistura, apenas usam suas siglas e descrevem seus nomes, mas logo no evento só o da Apega.
Visual da Feira
São negociações que devem ser feitas, normal que não se consiga chegar exatamente onde se pretende, mas como profissional que trabalha com Agricultura Familiar Ecológica no Brasil sinto inveja de uma relação desta como a que os campesinos Peruanos conseguiram com Apega.
Mas voltando à feira, este ano ela foi organizada às margens do Pacífico, em um local muito amplo. São dezenas de enormes barracas, cada uma delas representando um “mundo”. Temáticos, como o Mundo do Ceviche, Mundo Oriental, Mundo do Anticucho, Mundo das Brasas, ou Regional, como Mundo Amazônico, Andino ou Limenho. Tem outros, estes são só alguns exemplos. Em cada um deles várias barracas com comidas deliciosas, representando estes mundos. Entre estas grandes barracas, áreas com muitas mesas, algumas barracas menores de comidas, vendas de artesanato, bancas com bebidas.
E o negócio é comer. Um pouquinho de cada coisa, para provar o máximo possível. O melhor do dia foi um ceviche com molho de maracujá. Mas a porquinho feito na “caixa chinesa” perdeu por pouco. O ceviche de cogumelo e a truta grelhada ganham menção honrosa. E cada sobremesa...
Devo voltar lá amanhã, acho que não vou resistir. 

Caixa Chinesa
Porco assado na Caixa Chinesa





sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Lima, 05 de setembro de 2013.

Mercado 1 de Surquillo
Hoje tive apenas até o início da tarde para visitar um pouco de Lima. Depois trabalho. Tá bom também e o que fizemos de manhã valeu pelo dia.
Começamos pelo Mercado de Surquillo. Um luxo. Claro, para quem gosta de mercados populares, com frutas e verduras frescas e coloridas, grãos, castanhas e nozes a granel, ervas secas ou naturais, temperos os mais diversos. Também carnes, peixes e seus cheiros. E claro, milhos e batatas andinas das mais variadas cores, diferentes tamanhos, distintos usos culinários.
Rodamos bastante, tiramos fotos, compramos algumas coisas e fomos tomar nosso café da manhã. Ali mesmo, dentro do mercado, em uma da série de pequenas bancas onde as mulheres preparam sucos, vitaminas, café e sanduiches os mais variados. Tudo feito na hora. Pedimos suco de laranja com mamão, ela espremeu a laranja, descascou o mamão, bateu no liquidificador de vidro. Pedimos um sanduiche de tortilla de verduras, ela descascou e picou as verduras, bateu com o ovo, fritou, esquentou o pão, fechou o sanduiche. Amo muito tudo isto! 
Milho roxo, com ele se faz a
chicha morada
O Mercado tem também bancas que preparam almoços, os lugares são pequenos, bancos desconfortáveis para sentar e em relação à higiene e visual, digamos que sem o padrão FIFA ou ANVISA! Ficamos com vontade de almoçar, mas era ainda muito cedo.
Depois fomos caminhando por uns 50 minutos pelas simpáticas ruazinhas de Miraflores, admirando suas casas coloniais espanholas que conferem a este bairro sua elegância característica. E chegamos ao LarcoMar, um Shopping Center famoso aqui, construído na encosta da falésia que separa a cidade do Pacífico. Bonito, com muitos bons restaurantes, tendo o oceano como moldura. Apesar das muitas tentações, tomamos apenas um café e fomos para um lugar inusitado. Um sítio arqueológico no meio da cidade. Chamado Huaca Pucllana.
Huaca Pucllana. Olha o contraste com a cidade. Estes
edifícios está todos sobre os sítio arqueológico. E agora José?
Foi descoberto há pouco tempo, aberto para visitação em 1984, e impressiona. Primeiro por estar no meio da cidade, segundo por ter sido construído há cerca de 1500 anos e estar relativamente bem conservado. Ainda vem sendo estudado, e se imagina terminar as escavações apenas depois de 2030. Era um centro administrativo e cerimonial da cultura Lima, que viviam da pesca e da agricultura, depois foi dominado pelos Wasi, que também tiveram sua decadência e esta área então regressou às culturas da Costa, conhecidas como Cultura Ychsma. Tudo isto antes de 1450, com a chegada dos Incas, que passaram a dominar o pedaço. É aquela saga de conquistas, subjugações e dominações de sempre, que vemos e ouvimos nos museus, filmes e livros sobre a história dos povos.
Visual das Pirâmides, o centro cerimonial
A cultura Lima era Matriarcal, e este Centro Cerimonial era considerado feminino, isto expresso nos rituais, sacrifícios e na cor amarela com que pintavam a pirâmide, o ponto mais nobre desta cidadela. Mas quem quiser saber mais, dá uma olhada no site, deles, está repleto de informações interessantes.  (http://huacapucllanamiraflores.pe). Tudo que escrevi é parte do que aprendi hoje - não sabia nada sobre história, continuo sem saber, mas posso dizer que recomendo a visita.
Depois foi trabalhar, jantar e dormir. Não falei nada de comida hoje, quase nada, café da manhã não conta, mas o almoço e o jantar estavam sensacionais...
Reprodução de um ritual da Cultura Ychsma.
No Centro, a mulher comandando.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Lima, 03 e 04 de setembro de 2013.


Pacífico, visto de um mirante em Barranco, Lima
Outra vez em Lima. Não sei por que gosto tanto desta cidade, talvez por ver como ela vem se tornando mais atraente e bem cuidada nos últimos anos, e a cada vez que venho aqui vejo uma cidade mais agradável.
Chegamos ainda ontem, eu e Ana, e como estou sem inspiração para escrever, vou postar hoje apenas como memória, imaginando que algum dia no futuro eu vou gostar de ler o que fiz nesta vinda ao Peru.
Para iniciar a programação, fomos direto passear a pé por Miraflores. É onde estamos hospedados e onde me hospedo sempre. Meu bairro, ou Município como eles chamam por aqui, preferido. Depois de uma volta pelo Parque Kennedy e de beliscar algo em um café, fomos almoçar. É lugar comum dizer que ter amigos é um privilégio. É lugar comum dizer que ter amigos em diferentes países é um privilégio. Lugares comuns existem por alguma razão. Lugares comuns é o nome do meu filme predileto.
Mi Propriedad Privada
Tudo isto para dizer que uma amiga Peruana, Jannet, passou pelo hotel e nos levou para almoçar. Fomos ao Mi Propriedad Privada, especializado em ceviche (a comida mais típica da costa peruana, frutos do mar cozidos no limão). Fica na Av Costanera, 1010, Bairro de San Miguel. Adoro ceviche, adoro comida Peruana. Comemos ceviche, os mais variados, depois pedimos chicharron de frutos do mar - tipo frutos do mar à milanesa. Para tomar, um pisco souer (digamos que a caipirinha daqui) e chicha morada (típica bebida a base de milho roxo, com canela, cravo da índia, açúcar, um pouco de abacaxi). De sobremesa, picarones. Tudo isto tendo o pacífico à nossa vista. E este almoço foi o grande programa de ontem, o que vale a pena ser contado. 
Plaza de Armas. Ao fundo prédio com seu balcão.
Hoje, depois de trabalhar pela manhã, fomos dar uma volta pelo Centro Histórico. Começamos pela Plaza de Armas. Bonita, bem cuidada, com muita gente passando. Ao redor dela o Palácio de Governo, a Prefeitura, a Catedral, algo de comércio. E pombos. Tudo conforme o figurino. O casario muito bonito, boa parte restaurado, muitos balcões, daqueles fechados que se projetam para frente das casas desde o segundo andar, de madeira, um charme.
Peixe escabeche, simples e super correto
Da praça, em direção ao norte, se vai à Igreja de São Francisco, e neste caminho se passa pelo restaurante Cordano, o mais antigo de Lima. Muito interessante, mas não comemos lá. Uma das coisas que adoro aqui são os inúmeros restaurantes com os chamados pratos executivos a um preço equivalente a R$ 6,00, às vezes um pouco mais. Fomos a um destes, chamado Sotano de São Francisco, muito perto da Igreja e não me surpreendi, a comida estava muito boa.  Comi de entrada tiradidos (peixe cozido ao limão, com um molho ácido à base de pimenta amarela), de prato principal um peixe a escabeche, bebemos chicha morada e de sobremesa mazamorra morada (basicamente a chicha morada, cozida um pouco mais e engrossada com fécula de batata doce). Ana pediu outros pratos, mas nem vou comenta-los aqui. Só vou dizer que pagamos o equivalente a U$ 7,00 por este pequeno quase um banquete. Os dois.
Estádio Futbol Club
Depois do almoço fomos caminhando até a Praça San Martin. E lá buscamos o Estádio Futbol Club, que fica em frente à praça. Um bar/restaurante sensacional. Para quem gosta de futebol, imperdível. Tudo gira em torno do futebol. Na decoração, no cardápio, os garçons com camisetas de time de futebol, em cada cadeira o nome de um jogador. Muito legal. Tomamos apenas um expresso. Sexta-feira próxima tem jogo da seleção Peruana, vou tentar ir ver o jogo do Estádio.
Do Centro Histórico pegamos um táxi para Barranco, uma espécie de bairro boêmio da cidade, um dos mais antigos também, que poderíamos chamar de hippie-chique. A onda em Barranco é passear, ver as casas, tomar uma cerveja ou um café em frente ao Pacífico, tirar fotos. E atravessar a Ponte dos Suspiros, uma linda pontezinha de madeira, um dos pontos turísticos da cidade. Além de cafés e restaurantes, é lugar de pubs e discos, à noite ferve.
Barranco e seu charme
E na volta ainda fomos de compras, nos inúmeros centros de artesanatos que ficam entre a Ricardo Palma e a Petit Thouars, perto do Óvalo de Miraflores. Depois disto, um vinho no quarto de hotel, só para relaxar e dormir. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Abadiânia, 13 de Junho de 2013.


Frente da Casa D. Ignácio de Loyola, Abadiânia, Goiás.
Meu segundo e ultimo dia em Abadiânia. Já estou com saudades.
Acordei cedo e fui para a Casa. Aqui todos se referem assim, Casa. Curioso que não traduzem a palavra. Falam Casa, mesmo em inglês, alemão ou francês. Cheguei cedo, antes do início, por volta das sete da manhã e já estava cheia. Mas ainda não lotada, e com um pouco de paciência consegui um lugar bem na frente. Queria observar mais de perto as cirurgias visíveis.
O único momento que vi o médium João de Deus
caminhando pelo pátio, este com uma pasta preta.
E elas aconteceram. Pude ver de perto uma incisão no peito de um rapaz e na garganta de outro. Superficiais, mas o suficiente para sangrar um pouco. O procedimento é rápido e logo eles são colocados na cadeira de rodas que está a postos e são levados para uma espécie de enfermaria, onde ficam por horas deitados em camas com lençóis brancos. Assim como ontem também vi raspagem no olho com uma faca, a de hoje pareceu mais profunda, e outras cirurgias onde o médium só coloca a mão na pessoa e ela meio que desfalece, sendo imediatamente amparada e levada para esta mesma enfermaria. Sempre que termina ele fala: já está operada, pode levar.
Mas, como eu disse ontem, a maioria das cirurgias é em uma sala, onde apenas ficamos em oração. As salas são ecumênicas. Mistura crucifixos, imagens de santas, muitas fotos de Jesus e D. Ignácio, alguns outros personagens como Oswaldo Cruz, o próprio João de Deus e uma reportagem da Oprah na parede, no chão cristais enormes por todos os lados. Passado um tempo, 40, 50 minutos, o médium aparece na sala e fala esta mesma frase, no plural: aqui já estão todos operados, podem liberar.
Explicação depois da cirurgia, no pátio da Casa.
Foi o que aconteceu comigo. No início da tarde, depois de umas cirurgias visíveis, que são feitas no salão grande, à vista de todos, o médium, melhor dizendo a entidade incorporada no médium, perguntou quem gostaria de ser operado. Ali mesmo decidi que queria. Dirigi-me a sala, fiquei sentado, meditando, em oração. Fui operado, só não sei de que.
Gostei da ideia de passar por esta cirurgia. Muito na onda de ser a limpeza espiritual que aqui eles dizem que acontece nos casos onde a pessoa não tem um problema de saúde aparente. E quem sabe se não fui liberado de algum problema futuro? O fato é que estou me sentindo bem, melhor do que quando aqui cheguei. Se vai durar, não sei. Depois conto.
Fim de tarde, o povo de branco
voltando para suas casas
Fiquei hoje olhando as pessoas sendo atendidas e pensando. Imagino que poucos vêm procurar uma cirurgia espiritual sem ter feito já um périplo por médicos, psiquiatras ou livros de autoajuda. É o caso dos com quem eu conversei nestes dois dias. Os tempos são difíceis, é justo que diferentes caminhos sejam tentados. Deste aqui eu gostei muito, vai para o meu cardápio de soluções para tempos não tão fáceis.
Interessante Abadiânia, interessante o médium João de Deus e sua Casa D. Ignácio de Loyola. Interessante a atmosfera e o povo de branco, o ar cosmopolita dentro e em volta da Casa, o clima de fraternidade entre as pessoas. Natural este clima, quem está aqui em sua maioria está com dor (e quem não está?), e a dor irmana.
Recomendo. Eu gostei muito de ver, conhecer, sentir. Um check-up anual na Casa pode ser uma boa ideia. Veremos.

As pessoas chegando na casa, pela manhã.

O busto de D. Ignácio de Loyola, patrono da Casa

Cristais sendo vendidos.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Abadiânia, 12 de Junho de 2013.

Visual da Casa D. Ignácio de Loyola, Abadiânia, Goiás
         Este blog a principio é para minhas viagens internacionais. A de hoje entra como exceção, já que ela é dimensional... Estou em Abadiânia, cidade que fica entre Goiânia e Brasília. Cidade pequena, típica desta região do país, cortada em duas pela Belém-Brasília, com sintomas visíveis de pobreza e desorganização. Até aí, nenhuma novidade. Mas em um dos seus bairros a fisionomia muda. Ao nos aproximarmos da Casa Ignácio de Loyola (www.joaodedeus.com.br) parece que entramos em outro mundo. Inúmeras pousadas, todas simples, todas com nomes de Santos ou com alguma referencia religiosa. Café, lojas vendendo artesanatos, pedras, ervas medicinais, roupas brancas. Caminhando por este lado da cidade, português é o idioma menos ouvido. Além do Inglês, ouvi Francês, Alemão, Espanhol. O café que estou agora tem cardápio em Inglês. 
Mas não é só a presença de estrangeiros que dá a este canto do mundo um ar diferente. A maioria das pessoas veste branco, da cabeça aos pés. A música no ar, nos diferentes cafés, pousadas e restaurantes, é invariavelmente de meditação. A fisionomia das pessoas exala algo diferente, não sei definir bem, mas entre a dor e a paz, sentida ou buscada.
O que faz esta parte de Abadiânia assumir esta atmosfera de outra dimensão é a presença do médium João de Deus. É ele quem atende na Casa Ignácio de Loyola, Santo Católico e fundador da Companhia de Jesus. João de Deus é famoso no mundo todo e até a Oprah já esteve por aqui (www.youtube.com/watch?v=jvFCxdmTHOk). Agora, eu também!
Dentro da Casa, um dos locais de atendimento
A fama do médium vem das cirurgias espirituais que ele realiza. Elas são feitas de público, mas poucas são visíveis. Visível significa com corte, sangue, sutura. Quando feitas, impressionam. Nada de assepsia, anestesia ou dor. Mas, como disse, estas são minorias, feitas em 3, 4 pessoas. A maior parte das cirurgias é sem corte, apenas de cunho espiritual.
Hoje fiquei na Casa o dia todo. Cerca de mil pessoas estavam lá, quase todas vestidas de branco. Mais mulheres do que homens. Mais velhos que jovens. Mais estrangeiros do que brasileiros. Uma minoria com enfermidades visíveis. Todos concentrados, atentos, quase tensos. O atendimento é feito durante todo o dia. Todos passam pelo médium, através das várias filas que se formam, e tem um breve contato com seu guia espiritual. Neste momento ele orienta o que você deve fazer.
Vou contar brevemente o que vi. Duas pessoas sendo operadas na frente de todos, mas sem corte. Em dois minutos. Elas como que desfaleceram e foram amparadas pela equipe e se dirigiram a uma espécie de enfermaria com camas.
Vi outras duas pessoas tendo seus olhos raspados com uma faquinha, tipo de cozinha. E vi uma sofrendo incisão no seio, sangrando e levando um ponto. Estas três também, se dirigiram para esta mesma enfermaria, contígua a uma sala onde outros estão sentados, em prece, apoiando espiritualmente o trabalho da Casa.
Fora do salão principal da Casa
Eu entrei na fila, que passa por esta sala, e fui atendido. Em 10 segundos ele me receitou passiflora, o único remédio receitado na Casa e disse que queria me ver outra vez. Me emocionei às lágrimas ao passar por ele, saí e comprei o remédio, vendido ali mesmo. Isto foi de manhã. 
De tarde, entrei na fila de novo. Desta vez me emocionei mais do que pela manhã, as lágrimas brotaram com força, e ele me disse que meu tratamento já havia começado. Pediu para eu sentar na sala a qual me referi e ficar em oração. Foi o que fiz. Com outras dezenas de pessoas. Só para deixar claro, eu não pedi nenhuma cirurgia, até porque estou bem de saúde. Nem sei porque me emocionei. Mas o que se diz na Casa é que os guias do médium sabem mais do que nós o que estamos precisando, e, portanto, nos curam mesmo do que eventualmente não sabemos que temos. Amém.
Fico por aqui, mas teria mais pra contar. Quem sabe amanhã. Sei que vou dormir bem, o astral aqui é de fato diferente, agradável, de paz.