Um dos inúmeros corredores da Biofach |
Hoje foi dia de transitar na feira. Na
minha conta é a décima segunda vez que venho na Biofach. O trabalho duro nos obriga a cada sacrifício... Este ano
parece mais movimentada do que nos últimos e os números que tive acesso
apontaram para uma área 12% maior do que ano passado de pavilhões ocupados,
totalizando 30 mil metros quadrados de feira. Com o perdão da redundância, sempre
repito o que vou repetir agora: esta feira enterra a costumeira pergunta: “mas dá
para produzir tal ou qual cultura sem veneno?”. Acho que vou começar a
responder esta pergunta sugerindo a quem a faz que visite a Biofach.
Maçãs - será que dá para produzir sem veneno? |
Como de praxe, hoje, primeiro dia de Feira,
deu-se a divulgação dos dados "O mundo da agricultura orgânica". Com
certo clima de euforia pelo significativo crescimento de 2015 para 2016. Neste
ano, cujos números tivemos acesso hoje, o mercado de produtos orgânicos
movimentou noventa bilhões de dólares. Para quem não é da área devo dizer que este
mercado, como todos, é movimentado por pessoas. A novidade é que são pessoas
que, em sua maioria, são motivadas não apenas por sobreviver ou enriquecer.
Quem trabalha com Agricultura Orgânica normalmente também possui um desejo de
ver um mundo melhor. Com solos, águas, comidas e pessoas menos intoxicadas.
Esta idiossincrasia justifica a euforia, para além das eventuais vantagens
pessoais, em ver no mundo a ascensão desta forma de produzir e consumir
alimentos.
Julia Lernoud apresentando parte dos dados. |
O crescimento do mercado é a resultante
do crescimento da área e do número de produtores. Em 2015 eram 50,3 milhões de hectares
cultivados organicamente. Em 2016, 57,8 milhões, um crescimento considerável de
15%. Impulsionado, como é comum, pelo crescimento da pecuária orgânica na
Austrália, mas que também pode ser visto em países de menores dimensões mas não
menos importantes como Itália e França, com suas áreas saltando respectivamente
de 1,49 para 1,80 e de 1,32 para 1,54 milhões de hectares, apontando
crescimentos significativos de 16 e 20%. No Brasil a área foi reportada como
estagnada, em 750 mil hectares, mas sei que coletar estatísticas e números não
é o que fazemos de melhor. Os cinco países com maiores áreas são Austrália
(27,15 milhões de hectares), Argentina (3,01), China (2,28), EUA (2,03) e
Espanha (2,02).
Presença forte dos Italianos na feira |
Outro dado interessante sobre a área é
que 1,2% da agropecuária do mundo é cultivada baixo as regras da Agricultura
Orgânica. Se olhamos a Oceania este número sobre para 6,5% e na União Europeia
chegamos a 6,7%.
Quanto ao número de produtores também
ouve um importante crescimento. Em 2016 as estatísticas mostram que são 2,7 milhões
de unidades orgânicas no mundo, 300 mil a mais do que no ano anterior. O país
líder neste quesito outra vez é a Índia, com 835 mil produtores, seguido de
Uganda (210.352), México (210.000), Etiópia (203.602 e Filipinas com 165.994). Na
América Latina o Peru aparece em segundo lugar nesta estatística, com 92 mil
produtores. Todos estes países caracterizam-se por uma agricultura orgânica praticada
por agricultores familiares, diferente da Austrália, por exemplo, onde seus 27
milhões de hectares estão na mão de 2 mil produtores, uma impressionante média
de 13,5 mil hectares por unidade produtiva. Querem comparar? Na Índia são 1,49
milhões de hectares, com uma média de 1,25 hectares por produtor.
Estandes do Brasil na Biofach |
O Brasil foi reportado com apenas dez mil
produtores. Este número é maior, mas outras vez espelha menos nossa realidade e
mais nossa característica de dar pouca importância a coleta séria de dados.
Enfim, é um mar de números, muito
interessantes de serem analisados. Amanhã falo do tamanho dos diferentes
mercados. Por enquanto vou registrar que sigo com a sensação que está chegando
o momento dos números estatísticos da agricultura orgânica deixarem a
marginalidade.
Será mesmo que os millennials irão mudar a maneira como nos alimentamos? Mais uma
esperança depositada nesta geração.
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